A partir de 2008, o setor sucroenergético teve agravada uma crise operacional e financeira, que já era anunciada devido ao alto grau de endividamento das empresas, crise que se estendeu para toda cadeia produtiva. Em Sertãozinho, uma das cidades mais atingidas no interior de São Paulo, em três meses registrou cerca de 2,2 mil demissões, segundo levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). De acordo com pesquisa da MBF Agribusiness, de Sertãozinho (SP), até o momento 67 usinas encontram-se em recuperação judicial e as perspectivas ainda não são animadoras. Segundo a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), desde 2008, cerca de 80 unidades já fecharam suas portas e em 2015, mais nove usinas poderão encerrar suas atividades devido a grave situação financeira. “A recuperação do setor será lenta. Carrega um alto endividamento e problemas operacionais sérios, como baixa produtividade agrícola e elevados custos por falta de investimentos na recuperação dos canaviais, dos equipamentos industriais e infraestrutura de apoio agrícola. Ainda não é possível prever com qualidade o que será da nova safra em relação à produtividade agrícola, mas tende a ser próxima ou menor que a safra que se encerra. Não houve o volume de investimento agrícola que se anuncia no mercado, até mesmo porque muitas empresas aguardam a liberação de recursos das linhas subsidiadas do BNDES. Há muito marketing sobre as linhas de crédito e pouca efetividade na distribuição dos valores”, revela Marcos Antonio Françóia, diretor da MBF Agribusiness. Ele lembra que a dívida do setor sucroenergético em 2014 atingiu R$ 60 bilhões e R$ 91,03/tonelada. Françóia explica que em 2015 o setor ainda poderá ter reflexos positivos nos preços, mas as condições do endividamento em relação ao tamanho e exigências, quanto a prazos e taxas, forçam as empresas a venderem antecipadamente a safra, não auferindo resultados com os preços melhores durante a temporada, resultados que acabam ficando para poucos. “Como estamos falando do setor como um todo e o volume de empresas endividadas é alto, ainda veremos uma boa fatia cambaleando durante o ano. Os juros estão subindo e as linhas de crédito, para um setor em descrédito, estão cada vez mais escassas”, admite. Jair Pires, diretor executivo da MBF Agribusiness, admite que os preços devem melhorar em 2015. “A queda do preço do Petróleo fará com que a gasolina se mantenha mais barata, fato que limita o etanol. Quanto ao açúcar, o preço deve subir e ajudar um pouco nas contas, porém, na média geral, muitas unidades ainda contabilizarão prejuízos”, afirma Pires.
A Única revela que ainda existem dúvidas sobre diversos elementos que influenciam o volume de cana disponível para 2015 no Centro-Sul e que a próxima safra terá dificuldades para retornar aos níveis de produção registrados em 2013/14, que somou um nível recorde de 597 milhões de toneladas.
Cenário econômico desafia reestruturação
Com o quadro econômico atual do setor sucroenergético, muitas empresas ainda podem recorrer aos artifícios legais para reestruturar o perfil de sua dívida e com isso ganhar fôlego até a retomada do mercado, com preços mais remuneradores. Mas qualquer atitude para alongar o endividamento atual é ineficaz se a empresa não tiver acesso às novas linhas de crédito, também de longo prazo e com juros adequados para o setor. A informação é de Marcos Antonio Françóia, diretor da MBF Agribusiness.