Cartazes, carro de som, gente vinda de vários lugares e um sentimento de revolta e de abandono por parte do governo. Não, não foi mais um manifestos dos jovens, mas sim de diversos senhores, alguns já com idade avançada, fornecedores de cana-de-açúcar e representantes do setor, que se reuniram na manhã desta sexta-feira (2 de agosto), na Coplacana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo), em Piracicaba (SP), num protesto contra a alarmante situação que enfrentam, devido a falta de políticas públicas favoráveis ao etanol.
Entre os presentes, além de lideranças da cultura canavieira, políticos engajados na causa: os deputados federais Antonio Carlos de Mendes Thame (PSDB) e Arnaldo Calil Pereira Jardim (PPS), e o deputado estadual Roberto Moraes (PPS).
De acordo com o presidente da Coplacana, Arnaldo Antonio Bortoletto, esse deve ser o primeiro de diversos outros atos, que buscam ajudar, em especial, os pequenos produtores de cana que, segundo ele, tem sofrido com os altos custos de produção, enquanto o preço do seu
produto cai vertiginosamente. Para Bortoletto e os demais, grande parcela da culpa desse cenário é do governo que não tem priorizado o setor, em especial o etanol, em detrimento a gasolina. Ele também afirmou que o desejo das entidades é conseguir uma reunião com a presidenta da república, Dilma Rousseff, para que ela tome providências que realmente ajudem o setor.
O vice-presidente da Coplacana, José Coral, lembrou que os problemas vividos na área agrícola têm afetado severamente o comércio e indústria de cidades onde há diversos pequenos produtores de cana, tal como Piracicaba e Sertãozinho, ambas no interior de São Paulo.
Coral ressaltou que algumas medidas legais, como a liminar que suspendeu a queima da cana na região, em julho do ano passado, também estão prejudicando os pequenos produtores. Segundo ele, havia um compromisso de que a extinção da queima fosse feita gradualmente, conforme o protocolo ambiental estabelecido no estado de São Paulo, até 2014 em áreas mecanizáveis e 2017 nas que eram chamadas “não mecanizáveis”. Com a liminar, o processo foi acelerado, prejudicando muitos fornecedores que não tem como adquirir máquinas.
Esse é o caso do senhor Antonio Bressan, fornecedor da cidade de Saltinho (SP). Ele, dois filhos e quatro irmãos produzem 15 mil toneladas em áreas próprias e de arrendamento, que são entregues à Usina Santa Helena. Ele conta que, sem condições de comprar máquinas, precisam de mais mão de obra para cortar a cana crua e, a cada ano, o custo aumenta mais. “Temos que pagar o corte, o carregamento, a mão de obra, combustível e fazer os tratos para a safra seguinte (…) mas o preço da cana está muito baixo. É difícil.” O produtor conta que, em média, o custo de produção é de R$ 30,00 por tonelada e a cana é vendida a R$ 40,00.
Durante o evento, o assistente técnico da Orplana, usou três custos relacionados à mão de obra para explicitar o quanto os custos para plantar e colher cana estão aumentando. De 2005 a 2013, o salário médio de tratoristas subiu 70%, o de motorista, 76%, e para o trabalhador rural, 132%.
Os manifestantes defendiam, em cartazes e em seus discursos, políticas e longo prazo favorecendo o combustível a base de cana e concordaram que uma pauta de reivindicações unificada, de todos os que estiverem ligados ao setor canavieiro, vai fortalecer o movimento e chamar ainda mais a atenção para uma indústria que traz diversos benefícios ambientais, econômicos e sociais, tais como os 1,2 milhões de empregos formais que proporciona.
Ao final do protesto, o deputado Arnaldo Jardim conclamou as lideranças a realizar, no final de agosto, novos protestos, mas, dessa vez, no centro das cidades canavieiras, para causar “barulho e chamar a atenção”. Ele também sugeriu uma marcha à Brasília em setembro.