Com a floração, houve uma redução na qualidade da matéria-prima, bem como em sua quantidade, o que interferiu novamente nos planejamentos industriais das usinas e destilarias, reduzindo o ganho dos produtores. Finalmente, a crise financeira mundial surgiu com força e as usinas passaram a não conseguir mais empréstimos para financiá-las, justamente em um período próximo à preparação para a entressafra. Em 2007 e 2008, para obter financiamentos, a principal garantia utilizada foi a cana-de-açúcar. Para atender ao volume de garantia, muitas empresas aumentaram os investimentos no plantio, principalmente arrendando áreas a qualquer custo. Além de perder financeiramente com a queda dos preços dos produtos finais, as usinas perderam na logística de corte, pois viram se obrigadas a aplicar uma logística que atendesse às garantias oferecidas, cortando áreas fora do melhor período de maturação e muitas vezes com alto custo de CCT – Corte, Carregamento e Transporte. Além disso, com maior quantidade de matéria prima e precisando honrar os contratos comerciais, diversas unidades foram forçadas a alongar a safra em períodos não ideais para a moagem, aumentado ainda mais as perdas. Outras optaram por bisar a cana (deixar no campo para ser colhida na próxima safra), que também se caracterizou como perda, pois todo o investimento para a colheita já estava consumado. O resultado foi mais falta de caixa e atrasos nos pagamentos de parceiros, fornecedores e a não realização adequada dos tratos culturais da lavoura. Muitas usinas do centro-sul do país, que deveriam estar em seu período de entressafra, alongaram o final da moagem ou ainda estão moendo. De acordo com a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), até 15 de janeiro, ainda havia 26 usinas em plena atividade. O alongamento de safra pode trazer alguns riscos aos produtores, pois a cana-de-açúcar é uma planta com ciclo produtivo bem estabelecido e o clima dessa época do ano, quente e úmido, propicia seu crescimento vegetativo, onde há grande acúmulo de água e fibras, reduzindo a qualidade do caldo e a eficiência industrial.
Outras unidades do Centro-Sul, na impossibilidade de novos empréstimos, optaram por findar a safra 2008/2009, mas iniciarão o novo período um pouco mais cedo, em março/abril de 2009, para que possam “fazer caixa”. Tais empresas devem iniciar a moagem com a cana que, de maneira planejada ou não, foi deixada no campo na temporada passada. É preciso moer esta cana logo no início da safra devido às características fisiológicas da planta, para não haver maiores perdas na eficiência industrial. A quantidade de matéria-prima que ficou no campo é recorde, segundo estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), publicada em novembro. O volume de cana bisada esperado pela entidade no Centro Sul era de 27,7 milhões de toneladas, 5,5% da safra regional. Com o alongamento dos trabalhos em algumas companhias, esse número pode ter sido menor. A antecipação do início da nova safra pode trazer outra dificuldade aos produtores, no caso de canas mais novas. Mesmo utilizando maturadores químicos, a matéria prima pode não estar suficientemente madura e, se for moída, terá baixa qualidade, ou seja, pouca sacarose, obviamente trazendo prejuízos operacionais. Atrasadas ou adiantadas, essas usinas e destilarias podem ainda sofrer com as horas de paradas, que atrapalham o processo da colheita, transporte e a parte industrial por causa das chuvas, levando a novas perdas em qualidade e quantidade, uma vez que o processo industrial deve ser contínuo, o que reduz a contaminação do caldo. Além disso, as colheitas em períodos chuvosos, com elevado grau de dificuldades, aumentam as impurezas na cana e há a inversão de sacarose devido ao elevado número de horas de queima (tempo entre a hora em que a cana é queimada e sua entrada na usina). Na safra 2009/2010, o fator financeiro também será empecilho para garantir a qualidade da matéria-prima, pois as empresas vão reduzir investimentos em tratos culturais. Não haverá falta de matéria-prima devido à expansão ocorrida em 2006, mas a falta de tratos culturais e a não renovação em boa parte das lavouras nesse ano, poderá, dependendo das condições climáticas, fazer com que o volume de cana seja menor que o estimado.