urgentemente, a capacidade produtiva do setor. Coutinho também afirmou que o BNDES está pronto para financiar o setor e que, só em 2010, R$ 7,8 bilhões em investimentos para a cadeia sucroenergética. O investimento no campo ficou esquecido após a crise de 2008 quando, as já endividadas usinas, destilarias e açucareiras perderam investidores, que estavam retraídos no momento. O setor que crescia, desde 2003, a taxa em torno de 10% ao ano, ficou congelado. Passada a crise, os investimentos estrangeiros voltaram na forma de aquisições, fusões, enfim, um movimento de consolidação e de investimento em brown fields, ou seja, na indústria. Enquanto isso, há poucos projetos de green field – que seriam necessários para aumentar a capacidade da produção – e de expansão e melhoria nas de lavouras. Na realidade, a expansão não seria tão necessária se houvesse melhor produtividade nos canaviais que, com a falta de dinheiro, foram abandonados, não recebendo tratos culturais e renovação. “O potencial dos canaviais precisa de reciclagem”, afirmou Claudio Piquet Carneiro Pessoa de Barros, diretor da Glencore Brasil. Para Ricardo Castello Branco, diretor de etanol da Petrobras Biocombustíveis, falta investimento em produtividade. Segundo ele, a empresa tem capacidade, hoje, para moer 100 milhões de toneladas, mas falta cana para ser moída. No início desde ano, os brasileiros provaram o gosto amargo da pouca oferta de etanol. Como resultado, o produto ficou mais caro na bomba, elevou o consumo de gasolina e fez o país importar dos Estados Unidos o etanol de milho e uma reserva de gasolina. O cenário fez com que o governo resolvesse regular o setor, entregando a tarefa para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustívies (ANP). Segundo Haroldo Lima, presidente da instituição, o abastecimento do produto deixa a desejar e por essa razão, ele e um grupo de especialistas já informou a presidente Dilma Rousseff sobre a necessidade imediata de investimento. A falta de investimento, além de comprometer o suprimento do mercado interno, frustra, o que hoje é um distante sonho: exportar etanol em grande quantidade para os mercados mundo a fora.
As oportunidades de comércio batem à porta, como lembrou Jacyr Costa, presidente da Açúcar Guaraní: em 2022, os Estados Unidos vão precisar, de acordo com determinação legal, de 25 bilhões de litros de combustível avançado, classificação que o etanol de cana obteve da Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental (EPA em inglês). A Europa também tem dificuldades e um território que limita o crescimento de qualquer cultura. Durante a crise da última entressafra, o governo chegou a culpar os produtores por fazerem mais açúcar do que etanol, julgando-os descomprometidos com o abastecimento do país. Este ponto foi veementemente rebatido, pois a destinação de cana para produção de açúcar na safra 2010/2011 – que foi de 46%, segundo o Primeiro Levantamento de Acompanhamento da Safra de Cana, da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) – foi somente 2,3% maior do que na safra anterior. Barros, da Glencore Brasil, afirma que em 2012, estes investimentos voltarão. Como exemplo, Vasco Diaz, da Raízen, afirmou que sua empresa tem três projetos green field na manga. Os desafios do setor não param por ai. Entre outros pontos amplamente citados durante todo o evento estão garantir a competitividade do etanol e torna-lo uma commodity. Para tornar o etanol uma commodity é necessário padronizar o produto e criar condições para que ele circule livremente, sem barreiras tarifárias ou não. Para Géraldine Kutas, assessora sênior do presidente da Única para assuntos internacionais, as políticas de proteção jogam contra a popularização do etanol no mundo e a segurança energética mundial. Quanto a tornar o etanol competitivo, as preocupações giram em torno de três fatores: políticas governamentais que estabilizem o cenário, garantindo tranquilidade para investidores, melhorias de logística e redução nos custos de produção e na carga tributária. Mesmo com muitos fatores a serem vencidos, o mundo continua a crer no futuro dos biocombustíveis e o Brasil sabe que, se rumar no caminho certo, convergindo forças em prol do etanol, será uma potência inegável no futuro, garantindo segurança energética com qualidade, rentabilidade e respeito ao meio-ambiente. Eis o desafio: remar todos para o mesmo lado.