O setor entrou no ano de 2008 em crise e foi decepado com a crise mundial de crédito, que acabou com o “pedalar da bicicleta” de crédito bancário, que vinha alimentando o endividamento.
Durante todo esse período de incertezas, as instituições e governo estavam mais interessados em vender a imagem do setor no mercado mundial, do que planejar alternativas para colocar o produto brasileiro nas prateleiras e tanques do mundo e proteger ou solucionar a questão de elevação do endividamento do setor.
O resultado disso foi que se acreditou que o setor estava passando por sua pior crise, muito maior que a crise de 1999, pois a cadeia produtiva não estava mais unida como naquela época.
Para sobreviver, outra vez as empresas deixaram de investir na lavoura, que já estava sofrendo por diversos fatores de gestão e de clima.
• Excesso de produção e não conclusão de projetos de expansão da moagem nos anos de 2006 e 2007 levaram muitas unidades a processar nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro para fazer caixa, independente do resultado econômico e sacrifício da lavoura; alguns gestores anunciaram na mídia que haviam descoberto uma nova forma de processar cana – moer na entressafra – pura falta de visão;
• Houve período de muita chuva;
• Florescimento de cana;
• Geada;
• Seca.
O setor chegou em 2009 cambaleando.
A partir de meados de 2010, os preços começaram a subir, atingindo patamares altos e arrastando com eles o aumento do custo de produção. Vale lembrar que a matéria-prima de fornecedores tem seu custo atrelado aos preços dos produtos finais, pelo critério do CONSECANA .
No entanto, o aumento de preço do produto final foi seguido pela falta de matéria-prima e, consecutivamente, de produto.
Isso faz lembrar aquela antiga propaganda de biscoito: “Está fresquinho por que vende mais, ou vende mais por estar sempre fresquinho?”.
Sem produto, o preço aumentou, porém, por falta de cana, as margens continuaram as mesmas ou até mesmo pioraram no caso daquelas empresas que dependiam demais de cana de terceiros.
Alheio a tudo isso, tem a figura do governo, que mantém o preço da gasolina em baixa, prejudicando o consumo do etanol.
A mídia, de forma generalizada, veio tratando o setor como se tudo estivesse muito bem, pois os preços batiam recordes. Pura ilusão!
As instituições financeiras continuavam a exigir o pagamento das dívidas, pressionando cada vez mais o devedor através de execuções, ou outros instrumentos. Um direito dos credores.
De 2007 até a atualidade, o setor vem se arrastando.
Muitas empresas tiveram que partir para atitudes mais drásticas, na tentativa de não transferirem seus ativos pela dívida.
A Recuperação Judicial passou a fazer parte do vocabulário do setor. Muitos a favor, muitos contra na visão geral do mercado.
Todavia, para muitos casos foi o que restou, já que as empresas mostram sustentabilidade ao longo do tempo.
Se o governo incentivar, o mercado é promissor.
Sendo assim, para forçar os credores a uma conversa, já que isso não está sendo possível em muitos casos, a atitude judicial passou a ser a solução para que todos sentem a mesa e achem uma solução.
Seria muito melhor se essas cabeças pensantes e de decisão dos bancos, muitas das quais que se dizem conhecedoras do setor, debatessem sobre a forma de alongar as dívidas e, de fato, reduzir a pressão sobre as garantias e taxas de juros.
Os planos econômicos das empresas em recuperação, na sua maioria, mostram viabilidade a partir de 10 anos, com taxas de juros entre 8% e 10% ao ano. Tudo bem que os planos não contemplam catástrofes climáticas ou sociais. Além de contarem com uma boa dose de mudança na gestão das empresas, que muitas vezes também não ocorre após a aprovação do plano de recuperação judicial.
Mas, sem contar com essas intempéries, o setor tem viabilidade no longo prazo.
Um novo PESA não seria uma das soluções para o setor?
Reestruturado e com maior exigência de acompanhamento, poderia ser essa a grande solução. Uma recuperação não judicial, mas sim planejada e com a mão forte do governo e aceitação, mesmo que forçada, das instituições financeiras.
Como controlar?
• Monitoramento de colaterais, não da forma tradicional que se vende no mercado, mas realizado por empresas que conhecem as nuances do setor. Não se permite mais que as unidades “controlem” os “fiscais” do monitoramento, muitos desses sem conhecimento do processo produtivo;
• Flexibilização nas Garantias, podendo chegar até as ações do Grupo avaliado;
• Exigências de qualidade na gestão das unidades, que passariam a ter seus resultados econômicos e operacionais monitorados;
• Implantação de uma controladoria realmente eficiente, planejamento e conhecimento dos custos agroindustriais;
• Exigência de gestão corporativa e processo de profissionalização. Um conselho complementado por profissionais com experiência do mercado sucroenergético, representando as instituições e governo;
• Implantar a gestão de risco nas empresas.
Tudo isso pode parecer burocrático demais, mas somos o país da burocracia e, nesse caso, se faz necessário para criar a credibilidade que está faltando para o setor.
O QUE ESPERAR PARA 2012? – Se tudo continuar como está, teremos em 2012 um aumento significativo de pedidos de Recuperação Judicial, envolvendo toda a cadeia produtiva.
Muitos dos investidores que chegaram na onda do “OURO BRANCO” estão anunciando a sua retirada do setor.
Até Rubens Ometto anuncia em suas entrevistas o desânimo com um setor de tantos altos e baixos. Tudo bem que há várias formas de analisar os comentários veiculados na mídia falada e escrita. Muitos querem continuar no setor e uma forma de crescer é acabar com o crédito das unidades que estão cambaleando no mercado. Outros descobriram que não sabem administrar no setor sucroalcooleiro. Novamente destaca-se: é preciso conhecer o setor para sentar-se em uma cadeira de gestão de Usina.
De tudo isso, o que parece é que o governo está coçando a cabeça. Porém, não se vê atitudes que venham realmente socorrer o setor em 2012.
Os anúncios de recursos disponibilizados pelo governo não atingem aquelas empresas que estão com seus cadastros e números arruinados por anos e anos de instabilidade.
O volume de plantio de cana esperado para 2012 não está acontecendo e dificilmente acontecerá. Sendo assim, ainda teremos instabilidade em 2013. Plantio esse ano com reflexo em 2013, somente de cana de 12 meses, ou de ano.
Aos poucos, os sobreviventes se recomporão operacionalmente, atendendo a demanda e, assim, projeta-se crescimento. Mas pode ser mais devagar do que se imagina. Muitos necessitarão de novos sócios.
Novos processos de fusão e aquisição serão formalizados.
Investimentos em greenfields poderão acontecer, talvez, a partir do ano de 2013. Não é algo para o momento. Basta olhar a crise europeia e as ondas que chegam até o Brasil para concluir isso.
De concreto, parece que de modo geral as instituições estão se unindo num grito de SOCORRO para o setor e o governo está ficando com dor no pescoço por não direcionar o olhar aos chamados.
Até mesmo o comportamento da mídia mudou, apoiando uma atitude mais confiável por parte do governo, afinal até mesmo a Petrobras tem prejuízo com essa política de segurar o preço da gasolina, além do país jogar fora anos de investimento na tecnologia do etanol.
Aliás, o governo vem fazendo diversos anúncios que prometem ajudar a cadeia sucroenergética. Entre elas estão um novo aumento do preço da gasolina, que deve impactar o consumidor diretamente, e a elevação na porcentagem de etanol misturado à gasolina. Também foi anunciado, no final de junho, o Plano Agrícola e Pecuário que, entre outras coisas, disponibiliza na safra 2012/2013, R$ 115,2 bilhões em crédito à agricultura empresarial, com taxas de juros de 6,75% para 5,5% ao ano.
Um das grandes reivindicações do setor, que é uma menor tributação sobe o etanol também está sendo discutida. O Executivo estuda ressarcir os produtores por tributos pagos e até zerar algumas cobranças, como de PIS/Cofins.
Para pressionar o governo a realmente tomar as atitudes que tem prometido, o setor, convocado pelo prefeito Nério Costa, se reuniu em Sertãozinho (SP), no dia 20 de julho. “Estamos cansados de assistir o anúncio de medidas saneadoras para o setor, mas de concreto, nada. A alta ‘burrocracia’ estatal de Brasília está nos cansando e já estamos impacientes”, desabafou no evento Ismael José Perina, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro Sul.
Infelizmente, as medidas recentemente anunciadas e as que estão por vir, só terá repercussão em um ou dois anos.
OUTRA VEZ CRISE? – Isso não é mais permitido pensar. As palavras de ordem para a sustentabilidade econômica e social do setor são união, compromisso e planejamento estratégico, no micro e macro mercado. Atuação efetiva do governo, com o apoio das instituições ligadas ao setor, que também devem, antes de discursar, se unir e planejar.
“Olhar para o passado e aprender com os erros, corrigindo o futuro.” Quanto ao futuro, não há dúvidas que a sustentabilidade econômica é possível. O etanol continua a fazer parte da composição da matriz energética e é ambientalmente correto. A energia de biomassa gerada pela queima do bagaço também comporá a matriz energética brasileira. Quanto ao açúcar, a demanda mundial aumentará e outros produtos surgirão a partir da cana-de-açúcar.
Novos projetos agroindustriais serão necessários, porém, mais planejados, pois os obstáculos já são conhecidos pelos históricos passados.
O mercado investidor já se movimenta. Analistas econômicos de grandes fundos estão consultando o mercado, pois, em plena crise, é hora de iniciar os investimentos, mas visando o retorno no longo prazo que é de, no mínimo dez anos para as unidades já operacionais.
Como o preço da cana pesa nos custos?
A cana é obviamente o maior custo para a indústria e representa cerca de 60% do preço líquido, conforme critérios de cálculos do CONSECANA.
Para o produtor rural, a torcida é para que os preços do açúcar e do etanol permaneçam elevados, fato que gera maior remuneração, mas tendo sempre em mente épocas de preços baixos e prejuízos amenizados através de vendas de cana com subsídios, já que as unidades industriais mantinham contratos de exportação, principalmente de açúcar, os quais tinham que ser liquidados através da entrega dos produtos.
Claro que os investimentos em cana própria vêm crescendo ao longo dos anos, porém, a passos tão lentos que a participação da cana própria no volume total da moagem não apresenta evolução significativa, seja pelas crises, pelos custos elevados de arrendamentos/ parcerias, ou pela maior remuneração atual dos produtores rurais.
Não obstante a tudo isso, a compra da matériaprima adquirida de terceiros pelas unidades industriais, onde se inclui a cana de muitos acionistas – que são remunerados como fornecedores e não como deveriam ser – e parceiros, é paga com base no CONSECANA, que “arbitra” um índice de perdas entre 8,5% e 9,5% do total de açúcar entregue na unidade (entenda-se 100% do ART – Açúcares Redutores Totais, sendo que pouquíssimas unidades industriais conseguem uma eficiência com esse baixo nível de perdas – 90,5% e 91,5%).
Dados oficiais destacam que, a maioria das unidades que produzem açúcar e que tem uma destilaria anexa, atinge, no máximo, uma eficiência de 88%, ou seja, 12% de perdas totais. Quando se trata de uma unidade que processa cana-de-açúcar apenas para a produção de etanol – destilaria -, a eficiência de uma unidade acima do padrão, não ultrapassa 82% – 18% de perdas totais, sendo que, nesse caso, ainda tem o problema do preço atrelado ao da gasolina, proporcionando um resultado operacional muito baixo ou próximo de nulo.
Assim, há uma grande despesa efetivamente paga, que é justamente essa diferença nas perdas entre o critério CONSECANA e o que a unidade consegue extrair – eficiência. Isso vem onerando as unidades industriais, sem considerar os elevados subsídios nas regiões com concorrência pela matéria-prima.
A situação atual das lavouras, como chegou a esse nível, já é um fator conhecido nas crises do setor.
Dados coletados junto a CONAB apontam para um crescimento expressivo do rendimento agrícola no Nordeste, diferente do que ocorre no Centro-Sul. Como a participação do volume de cana nordestina em relação ao total do Brasil é pequena, ou seja, próximo de 10%, na soma final é pouco representativa.
A tabela 1 (um), cujos dados também foram extraídos dos arquivos da CONAB, apontam um crescimento em área de cana no Centro-Sul e uma estabilidade no Nordeste do país. Entretanto, observase que no Centro-Sul há um crescimento expressivo de rendimento agrícola no período de 2008 a 2010, justamente no período de maior expansão de área onde canaviais do primeiro ao terceiro corte têm maior representatividade em relação às outras safras. Outro fato relevante nesse mesmo período, e não por coincidência, é que ocorreu uma oferta de cana “bisada” na ordem de 10%, com cerca de 30 a 40% a mais na produtividade agrícola.
Refazendo os cálculos da produção no CentroSul e desconsiderando essa maior oferta de cana em razão da cana bis, o rendimento médio para essas três safras seria em torno de 81 toneladas de cana por hectare (tc/ha), diferente da média de 84 toneladas com a cana “bis”. Dessa forma, a média brasileira neste mesmo período cairia de 81 tc/ha para 78 tc/ha.