Apesar de um ano com boas notícias para o setor sucroenergético, muitas empresas ainda enfrentam problemas e buscam se reestruturar para sobreviver.
Ao longo de 2010, os preços de açúcar e etanol estiveram mais altos do que os registrados no ano anterior. Tomando como base os Indicadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) para o Estado de São Paulo, é possível constatar que o preço médio de ambos os etanóis, anidro e hidratado, registraram preço médio superior aos pagos em 2009, em todos os meses do ano. Com a cotação do açúcar, o fenômeno de altas se repetiu e, apesar de algumas variações negativas, os valores de 2010 foram mais altos do que os de 2009. No mercado internacional de açúcar, os preços em 2010 bateram recordes. As altas foram sustentadas pela grande demanda e pouca oferta, sendo que o Brasil foi o maior exportador mundial da commodity, que está escassa em outras nações produtoras, especialmente por conta de problemas climáticos. No Brasil, os investimentos estrangeiros no setor voltaram e as unidades sucroenergéticas vivem um momento de consolidação, com empresas menores se unindo a grandes ou entre elas mesmas. Diversas parcerias surgiram, fortificando o papel do setor no cenário mundial, como foi o caso da joint venture entre Shell e Cosan. Segundo levantamento do banco Itaú BBA, a recuperação dos preços dos produtos finais e a cautela quanto a novos investimentos, tem ajudado a reduzir a alavancagem no setor. O nível de endividamento médio do CentroSul na safra 2008/2009 era de R$ 86,80 por tonelada de cana e, a previsão para 2009/2010 é de que caia para R$ 75,21 por tonelada. Esses dados somente poderão ser confirmados com as publicações e compilações dos dados dos balanços das Cias. Mas apesar dos preços mais elevados e deste cenário aparentemente positivo, nem tudo são “flores” no setor sucroenergético. O levantamento do Itaú, que analisou 66 grupos de usinas, que juntos moem 450 milhões de toneladas, confirmou o que a MBF Agribusiness vem destacando em seus comentários e entrevistas. Destes grupos, 31 tem condições de retomar investimentos. Porém, os outros 35 grupos ainda enfrentam dificuldades: 16 ainda estão em fase de ajustes para tentar reduzir a alavancagem e os outros 19, precisam realizar alguma operação estratégica para reduzir suas dívidas. Apesar de a alavancagem cair de forma geral, ao analisar de perto a situação das empresas, é possível perceber que os problemas continuam. De acordo com a MBF, cerca de 20% do setor tem um grau de alavancagem que, pelos padrões normais de análise, indicam insolvência.
Para Marcos Antonio Françóia, diretor da MBF Agribusiness, “é impressionante como ainda há gestores que acreditam que o saldo de dívidas tributárias, sejam elas federais ou estaduais, não entram na conta do grau de alavancagem.” Recentemente, a MBF concluiu um estudo de capacidade de pagamento de 24 unidades do setor, feito para um grande banco internacional, e concluiu que apenas dois grandes grupos possibilitariam baixos riscos nos próximos cinco anos, se os preços se mantiverem nos patamares médios das últimas cinco safras. Há muitas companhias traçando planos de metas, visando renegociar suas contas. Elas buscam por condições melhores de pagamento, como menores taxas de juros e, principalmente, estender o prazo de pagamento. Mesmo com melhores preços sendo praticados para o açúcar e o etanol, muitas destas empresas não sentem o efeito, já que continuam negociando seus produtos abaixo do valor de mercado, visando levantar caixa para se manter e começar a se reestruturar. A injeção de capital no setor está voltando, porém, os investidores que já estavam mais seletivos, tornaram-se ainda mais exigentes, o que dificulta a busca por parceiros estratégicos para a recuperação destas unidades que permanecem endividadas. Existe capital à disposição das empresas sucroenergéticas, mas ele é destinado às companhias que estão em melhor situação. Fontes de crédito como bancos, fundos de investimento e até mesmo outras empresas sucroenergéticas de grande porte, tem preferido investir em empresas com situação mais confortável, do ponto de vista financeiro. A concessão de crédito, mesmo de fontes governamentais como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), contempla empresas que estão buscando