Em tempos de euforia, o setor sucroalcooleiro está assediado por uma avalanche de informações sobre novos negócios. Muitas destas informações acham-se distorcidas, o que estimula o sonho milionário e, muitas vezes, coloca empresas, ou até mesmo o próprio setor sucroalcooleiro, numa vitrine mal elaborada que ofusca a qualidade dos seus produtos.
Tornou-se comum ouvir falar em negócios de compra de usinas que vão de US$ 80 a US$ 100 por tonelada de cana processada. Alguns deles realmente ultrapassaram os US$ 100 por tonelada, isso se dividindo o valor pago pela quantidade de cana moída pela usina ou grupo negociado.
Este fator estimulou muitos a utilizarem a multiplicação, operação básica da matemática, como instrumento de avaliação econômica deste tipo de negócio. Mas esta conta é uma ilusão. O que determina o real valor da empresa não é sua capacidade de moagem, mas sim o que está incluso na negociação além do seu parque industrial – que também depende do seu estado de conservação.
Há negócios concretizados onde estão inclusas terras, outros com indenização de soqueira, alguns com todo o apoio agrícola e outros onde, no investimento de aquisição, entraram os projetos que ainda não saíram nem do papel.
Negociações de aquisição do parque industrial somente não passam de US$ 40 por tonelada processada, mesmo considerando o atual ágio de valorização do setor. Segundo Edison F. Guassi, diretor da SOPARCONSULT, empresa especializada em avaliação patrimonial de empresas agroindustriais, “a valorização do patrimônio industrial de uma usina ou destilaria em operação ainda não está refletida nas contas patrimoniais do Balanço, pois são valores que o mercado está disposto a pagar pelo empreendimento e não significa que os equipamentos tenham esse valor como definição quando comprados separadamente”.
Pelo exposto, fica a pergunta: Qual o melhor critério para se avaliar uma empresa do setor de açúcar e álcool? Patrimônio Líquido Ajustado a Valor de Mercado ou Fluxo de Caixa Descontado? Pelo método do Fluxo de Caixa Descontado, o período de projeção deverá ser até a safra onde o projeto atinja a estabilidade de lavoura, atendendo também à capacidade máxima operacional da indústria.
Encontrada a estabilidade, deve-se fazer o cálculo da perpetuidade a partir deste último ano, considerando uma taxa de crescimento linear (vide Modelo de Gordon) ou não. Com isso, desconta-se o projeto pelo Custo Médio Ponderado de Capital – CMPC (ou Weighted Average Cost of Capital – WACC), que deverá levar em conta, entre outras coisas, a alavancagem atual da companhia. Após ser descontado, se encontra o Valor do Empreendimento.
No caso de uma usina já estabilizada na indústria e na lavoura, basta um período de fluxo de caixa com a estabilização para se aplicar no período seguinte a fórmula da perpetuidade. A partir da estabilização, não importa se a projeção é de dez anos ou de cinco anos, seu Valor Presente Líquido (VPL) será o mesmo. Isso mostra como são desnecessários cálculos com muitos anos projetados, geralmente realizados por algumas empresas de consultoria do mercado.
Consideremos, a título de ilustração, um exemplo didático e ilustrativo: